Por Rita Foelker
Já vi muitas discussões sobre o que se ter ou não se
ter na livraria da instituição espírita, o que disponibilizar na biblioteca, o
que anunciar, e decidi expor o que penso.
Penso indubitavelmente que o centro espírita precisa
divulgar livros que passem noções corretas da doutrina espírita, assim como os
boletins e jornais.
Mas "como fazer isso?", para mim, é a
questão mais delicada. Precisaríamos resguardar essas avaliações, o máximo
possível, da interferência de preconceitos e preferências pessoais, bem como de
opiniões sem base doutrinária nenhuma. Será que conseguimos fazer isso? Ou
seria preferível trabalhar para formar um leitor crítico, capaz, ele mesmo, de
analisar e julgar o que lê?
Liberdade
de pensar e questionar
No caso dos livros espíritas, o selo de uma editora
conceituada não é garantia de coerência com a filosofia espírita. Então, creio
que precisamos investir no outro lado: colocar os livros em discussão,
incentivar questionamentos e pesquisas, possibilitar ao leitor aumentar seu
discernimento. E nunca – mesmo! – abandonar o estudo das obras de Kardec.
O espiritismo não proíbe ler nada, mas vejo que
algumas pessoas, preocupadas com a formação cultural do recém-chegado à casa
espírita, criam medos e fantasmas em torno de certos autores e conteúdos, os
quais não se justificam. E se essas pessoas representam, para alguém,
autoridades dignas de confiança, ou são tidas como conhecedoras do assunto, a
tendência será acatar suas observações. Por outro lado, o espírita deveria
aprender a exercitar livremente sua razão, sem se guiar pela opinião deste ou
daquele.
Algumas vezes, vimos dirigentes e formadores de
opinião levantando bandeiras e atacando ideias (às vezes, até companheiros). E
todo esse clima de “caça às bruxas” é preocupante, porque ele não é coerente
com a visão espírita da liberdade de pensar. Buscar compreensão e
esclarecimento é importante, mas nem todas as instituições espíritas ajudam
realmente seus frequentadores a se esclarecerem nesse aspecto, a buscarem o
suporte da razão. Definem o que deve ser lido e o que deve ser deixado de lado.
Algumas que conheci queriam, mesmo, impor suas próprias interpretações.
Por isso, vejo que a solução é trabalhar na outra
ponta, instrumentalizando o leitor para que ele seja observador, analítico,
usando a razão e bom senso, sempre.
Também sou a favor de que as pessoas possam ler
aquilo que lhes parece bom e interessante, aprendendo com isso a separar
conteúdos relevantes de banalidades ou mesmo, de equívocos crassos.
Agora, existem casos de contradição flagrante aos
princípios da doutrina, apresentada como se fosse espiritismo? Sim. Mas na
maioria das vezes, as discordâncias dizem respeito a interpretações e pareceres
pessoais sobre trechos e contextos em que estes se inserem.
Sejam ou não obras rotuladas de espíritas, acredito
que precisamos tomar cuidado para não nos tornarmos censores baseados no nosso
critério ou gosto pessoal – o que não é difícil de ocorrer. Os critérios
deveriam levar em conta pura e simplesmente os postulados espíritas, as leis
naturais, e não serem estabelecidos sobre preconceitos e opiniões sem base.
Enfim, ninguém pode afirmar
o que “é” e o que “não é” espiritismo pois, com exceção das transcrições
textuais da obra de Kardec, o restante fica submetido à maré dos pontos de
vista.
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