quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Luiz Gonzaga e o carinho dos pais

Lamentavelmente, algumas vezes na vida trocamos o essencial pelo supérfluo...

Por Pedro Camilo

Assistindo a uma entrevista concedida pelo saudoso Luiz Gonzaga à TV Cultura, na década de 70 do século XX, ainda em preto e branco e sem as demais tecnologias conhecidas nos dias de hoje, tive minha atenção atraída para uma fala muito significativa do músico.
Seu filho Gonzaguinha, também artista e presente à entrevista, endereça-lhe a seguinte pergunta:
- Eu queria saber: como foi tua infância?
Com a sua natural simpatia, o Rei do Baião respondeu, prontamente:
- Minha infância foi de menino pobre, mas não tão infeliz, porque eu creio que uma criança pobre, uma criança, enfim, dificilmente pode saber que é infeliz, desde que tenha o carinho dos seus pais. Isto não me faltou em casa.

Pensando sobre

Ouvir essas palavras assim, com a naturalidade e a autoridade de quem falava de si mesmo, me fez pensar um pouco nos valores que cultivamos e transmitimos a nossas crianças, inda mesmo sem o percebermos.
A todo instante, na luta frenética dos nossos dias, apesar de todos os valores espirituais e morais que temos aprendido a assimilar, nos prendemos em demasia às necessidades da vida material, condicionando nossa felicidade à compra de um carro, de uma casa nova, à realização de uma viagem ou mesmo à aquisição de um par de tênis.
Assim mergulhados no mundo do “ter”, conduzimos nossas crianças pelos mesmos caminhos, como referências que somos na formação de sua personalidade, inculcando em suas mentes que só é possível ser feliz quando se acumulam riquezas, esquecidos das coisas simples e de como a vida, em si mesma, é simples.
Aliás, o próprio universo infantil é simples, isto é, destituído de maiores necessidades. As crianças se alegram e festejam por pouca coisa, basta que se sintam agradadas, contempladas, atendidas em suas manifestações de afeto e correspondidas em suas peraltices.
De que nos adiantam os tesouros que o tempo consome, como na palavra do Cristo, se não entesouramos os nossos corações e o das nossas crianças com amor sincero, com carinho verdadeiro?
Quantos de nós ignoramos a força do afeto em meio às adversidades da vida e nos privamos, e às nossas crianças, de momentos felizes, apesar dos pesares?
“Uma criança”, lembra Luiz Gonzaga, “dificilmente pode saber que é infeliz, desde que tenha o carinho dos seus pais”, ao que poderíamos acrescentar: pessoa alguma poderá se saber infeliz, desde que receba e distribua afeto!
E se lembramos, ainda com Jesus, que precisamos ser como crianças para ganhar o nosso “reino interior”, que é o grande Reino de Deus, receberemos as sábias palavras do músico para nós mesmos, buscando no carinho da família, dos amigos e da Humanidade a resposta perfeita para os nossos momentos de infelicidade.

PEDRO CAMILO é advogado, professor universitário, escritor e expositor espírita. Trabalhador do Núcleo Espírita Telles de Menezes, de Salvador/BA. Autor de Yvonne Pereira, uma heroína silenciosa (Ed. Lachâtre) e Mediunidade: para entender e refletir (Ed. Mente Aberta), entre outros livros.

Este texto é parte integrante do Jornal Leitura Espírita, Edição 08, Dezembro de 2012, que traz ainda:

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Apenas assista...

Que não nos abandone a criança que sonha e que brinca mas, brincando, também deixa no mundo marcas de inocência e beleza!

 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Nossa história em 2 minutos: vale a pena assistir!

A história de nosso planeta pode ser vista como uma história da evolução anímica dos seres que transitaram pelos três reinos e uma história da evolução intelectual e tecnológica dos seres humanos, mas também mostra o quadro de nossa ainda deficiente melhoria moral.
Our story in 2 minutes é um vídeo feito pelo jovem estudante Joe Bush, de dezenove anos e que, postado no final de maio de 2012, tornou-se bastante popular. O vídeo foi produzido para um projeto escolar, e conduz a uma verdadeira viagem no tempo com imagens em sequência cronológica que, segundo seu autor, foram obtidas na internet.
Perceber como temos agido perante a Natureza e o próximo pode ser um ponto de partida para a conscientização de nosso papel no mundo e de nossa possibilidade de rever atitudes equivocadas. Vale a pena acompanhar essa viagem no tempo, do passado ao futuro.



Veja outros destaques da edição 06 do jornal Leitura Espírita: 


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Bezerra de Menezes: um relato pessoal

Por Silvia Beraldo
silviaberaldo@bol.com.br

Escultura em argila do artista paraense Milton Nascimento

Hoje, 29 de agosto, dia em que se comemora o nascimento de Adolfo Bezerra de Menezes no ano de 1831, gostaria de relatar e testemunhar uma cura de doença grave através deste espírito.
Há uns oito anos, fui acometida por uma doença chamada psoríase, que provoca o ressecamento e descamação da pele. No meu caso, atingiu as solas dos pés, até o tornozelo  e as mãos, até o cotovelo,  gerando um doloroso sofrimento emocional (no casamento) e social (pois pessoas achavam que seria uma doença contagiosa).
Procurei médicos e encontrei um diagnóstico profundamente decepcionante. Alguns dermatologistas me informaram que não haveria cura para essa doença, por se tratar de uma doença emocional. Na ocasião, estava passando problemas financeiros e emocionais, muitas  mudanças, e foi quando surgiu a doença.
Restava-me apenas, segundo os médicos, tratar o ressecamento, para não se tornar uma doença crônica, ou seja visível para sempre (porque aparecia e sumia).
Bem, há uns 4 anos atrás, já frequentava o Grupo Alternativo Amor e Luz*, em Santa Cecília/SP, buscando limpeza corporal através das sessões de passe. Um dia desses estava tendo uma cirurgia espiritual (eu nem tinha conhecimento do trabalho), onde haviam me informado que a médium estava incorporada com doutor Bezerra de Menezes. Prontamente passei pelo atendimento e doutor Bezerra me perguntou:
- Filha o que vc tem?
Então eu pensei... e me lembrei da psoríase. Disse a ele, que me perguntou:
- Onde?
E eu relatei. No mesmo instante ele começou seu trabalho de cura E, em uma única sessão de tratamento, ELE ME CUROU.
Já faz 4 anos que ele me abençoou com a cura, sempre que falo com algum espírita sobre questões de saúde, me vem essa lembrança do doutor Bezerra de Menezes.
E olha que não sou adepta a nenhuma e religião, posso dizer que sou uma eterna indagadora! Mas essa cura aconteceu e não tenho dúvidas que fui curada por ele o doutor BEZERRA DE MENEZES”!
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SILVIA BERALDO trabalha com vendas e reside em São Paulo, Capital.

* O Grupo Alternativo Amor e Luz Hospital Espírita Dr. Adolfo Bezerra de Menezes situa-se à rua Lopes de Oliveira, 474, Santa Cecília, São Paulo/SP, CEP 01152-010, Fone 011-3822-5687.

Saindo a Edição 05, de Setembro de 2012


quarta-feira, 18 de julho de 2012

O espiritismo e a mulher

"É a mulher que, desde o berço, modela a alma das gerações"






Por León Denis*

Encontram-se, em ambos os sexos, excelentes médiuns; é à mulher, entretanto, que parecem outorgadas as mais belas faculdades psíquicas. Daí o eminente papel que lhe está reservado na difusão do novo Espiritualismo.

Malgrado às imperfeições inerentes a toda criatura humana, não pode a mulher, para quem a estuda imparcialmente, deixar de ser objeto de surpresa e algumas vezes de admiração. Não é unicamente em seus traços pessoais que se realizam, em a Natureza e na Arte, os tipos da beleza, da piedade e da caridade; no que se refere aos poderes íntimos, à intuição e adivinhação, sempre foi ela superior ao homem. Entre as filhas de Eva é que obteve a Antiguidade as suas célebres videntes e sibilas. Esses maravilhosos poderes, esses dons do Alto, a igreja entendeu, na Idade Média, aviltar e suprimir, mediante os processos instaurados por feitiçaria. Hoje encontram eles sua aplicação, porque é sobretudo por intermédio da mulher que se afirma a comunhão com a vida invisível.

Mais uma vez se revela a mulher em sua sublime função de mediadora que o é em toda a Natureza. Dela provém a vida; e ela a própria fonte desta, a regeneradora da raça humana, que não subsiste e se renova senão por seu amor e seus ternos cuidados. E essa função preponderante que desempenha no domínio da vida, ainda a vem preencher no domínio da morte. Mas nós sabemos que a morte e a vida são uma, ou antes, são as duas formas alternadas, os dois aspectos contínuos da existência.

Mediadora também é a mulher no domínio das crenças. Sempre serviu de intermediária entre a nova fé que surge e a fé antiga que definha e vai desaparecendo. Foi o seu papel no passado, nos primeiros tempos do cristianismo, e ainda o é na época presente.

O catolicismo não compreendeu a mulher, a quem tanto devia. Seus monges e padres, vivendo no celibato, longe da família, não poderiam apreciar o poder e o encanto desse delicado ser, em quem enxergavam antes um perigo.

A antiguidade pagã teve sobre nós a superioridade de conhecer e cultivar a alma feminina. Suas faculdades se expandiam livremente nos mistérios. Sacerdotisa nos tempos védicos, ao altar doméstico, intimamente associada, no Egito, na Grécia, na Gália, às cerimônias do culto, por toda a parte era a mulher objeto de uma iniciação, de um ensino especial, que dela faziam um ser quase divino, a fada protetora, o gênio do lar, a custódia das fontes da vida. A essa compreensão do papel que a mulher desempenha, nela personificando a Natureza, com suas profundas intuições, suas percepções sutis, suas adivinhações misteriosas, é que foi devida a beleza, a força, a grandeza épica das raças grega e céltica.

Porque, tal seja a mulher, tal é o filho, tal será o homem. É a mulher que, desde o berço, modela a alma das gerações. É ela que faz os heróis, os poetas, os artistas, cujos feitos e obras fulguram através dos séculos. Até aos sete anos o filho permanecia no gineceu sob a direção materna. E sabe-se o que foram as mães gregas, romanas e gaulesas. Para desempenhar, porém, tão sagrada missão educativa, era necessária a iniciação no grande mistério da vida e do destino, o conhecimento da lei das preexistências e das reencarnações; porque só essa lei dá à vida do ser, que vai desabrochar sob a égide materna, sua significação tão bela e tão comovedora.

Essa benéfica influência da mulher iniciada, que irradiava sobre o mundo antigo como uma doce claridade, foi destruída pela lenda bíblica da queda original.

Segundo as Escrituras, a mulher é responsável pela proscrição do homem; ela perde Adão e, com ele, toda a Humanidade; atraiçoa Sansão. Uma passagem do Eclesiastes a declara “uma coisa mais amarga que a morte”. O casamento mesmo parece um mal: “Que os que têm esposas sejam como se não as tivessem” – exclama Paulo.

Nesse ponto, como em tantos outros, a tradição e o espírito judaico prevaleceram, na igreja, sobre modo de entender do Cristo, que foi sempre benévolo, compassivo, afetuoso para com a mulher. Em todas as circunstâncias a escuda ele com sua proteção; dirige-lhe suas mais tocantes parábolas. Estende-lhe sempre a mão, mesmo quando decaída. Por isso as mulheres reconhecidas lhe formam uma espécie de cortejo; muitas o acompanharão até a morte.

A situação da mulher, na civilização contemporânea, é difícil, não raro dolorosa. Nem sempre a mulher tem para si os usos e as leis; mil perigos a cercam, se ela fraqueja, se sucumbe, raramente se lhe estende mão amiga. A corrupção dos costumes fez da mulher a vítima do século. A miséria, as lágrimas, a prostituição, o suicídio – tal é a sorte de grande número de pobres criaturas em nossas sociedades opulentas.

Uma reação, porém, já se vai operando. Sob a denominação de feminismo, um certo movimento se acentua legítimo em seu princípio, exagerado, entretanto, em seus intuitos; porque ao lado de justas reivindicações, enuncia propósitos que fariam da mulher, não mais mulher, mas cópia, paródia do homem. O movimento feminista desconhece o verdadeiro papel da mulher e tende a transviá-la do destino que lhe está natural e normalmente traçado. O homem e a mulher nasceram para funções diferentes, mas complementares. No ponto de vista da ação social, são equivalentes e inseparáveis.

O moderno espiritualismo, graças às suas práticas e doutrinas, todas de ideal, de amor, de equidade, encara a questão de modo diverso e resolve-a sem esforço e sem estardalhaço. Restitui a mulher seu verdadeiro lugar na família e na obra social, indicando-lhe a sublime função que lhe cabe desempenhar na educação e no adiantamento da humanidade. Faz mais, reintegra-a em sua missão de mediadora predestinada, verdadeiro traço de união que liga as sociedades da Terra às do Espaço.

A grande sensibilidade da mulher a constitui o médium por excelência, capaz de exprimir, de traduzir os pensamentos, as emoções, os sofrimentos das almas, os altos ensinos dos espíritos celestes. Na aplicação de suas faculdades encontra ela profundas alegrias e uma fonte viva de consolações. A feição religiosa do Espiritismo a atrai e lhe satisfaz as aspirações do coração, as necessidades de ternura, que estendem, para além do túmulo, aos entes desaparecidos. O perigo para ela, como para o homem, está no orgulho dos poderes adquiridos, na suscetibilidade exagerada. O ciúme, suscitando rivalidades entre médiuns, torna-se muitas vezes motivo de desagregação para os grupos.

Daí a necessidade de desenvolver na mulher, ao mesmo tempo que os poderes intuitivos, suas admiráveis qualidades morais, o esquecimento de si mesma, o júbilo do sacrifício, numa palavra, o sentimento dos deveres e das responsabilidades inerentes à sua missão mediatriz.

O materialismo, não ponderando senão o nosso organismo físico, faz da mulher um ser inferior por sua fraqueza e a impele à sensualidade. Ao seu contato, essa flor de poesia verga ao peso das influências degradantes, se deprime e envilece. Privada de sua função mediadora, de sua imaculada auréola, tornada escrava dos sentidos, não é mais um ser instintivo, impulsivo, exposto às sugestões dos apetites mórbidos. O respeito mútuo, as sólidas virtudes domésticas desaparecem; a discórdia e o adultério se introduzem no lar; a família se dissolve, a felicidade se aniquila. Uma nova geração, desiludida e cética, surge do seio de uma sociedade em decadência.

Com o espiritualismo, porém, ergue de novo a mulher a inspirada fronte; vem associar-se intimamente à obra de harmonia social, ao movimento geral das ideias. O corpo não é mais que uma forma tomada por empréstimo; a essência da vida é o espírito, e nesse ponto de vista o homem e a mulher são favorecidos por igual. Assim, o moderno espiritualismo restabelece o mesmo critério dos celtas, nossos pais; firma a igualdade dos sexos sobre a identidade da natureza psíquica e o caráter imperecível do ser humano, e a ambos assegura posição idêntica nas agremiações de estudo.

Pelo espiritismo se subtrai a mulher ao vértice dos sentidos e ascende à vida superior. Sua alma se ilumina de clarão mais puro; seu coração se torna o foco irradiador de ternos sentimentos e nobilíssimas paixões. Ela reassume no lar a encantadora missão que lhe pertence, feita de dedicação e piedade, seu importante e divino papel de mãe, de irmã e educadora, sua nobre e doce função persuasiva.

Cessa, desde então, a luta entre os dois sexos. As duas metades da humanidade se aliam e equilibram no amor, para cooperarem juntas no plano providencial, nas obras da Divina Inteligência.



* Texto extraído do livro No invisível (Ed. FEB)


Esta é a capa da Edição 04 (Agosto/2012) do jornal Leitura Espírita:



Bob Dylan e a filosofia espírita


A matéria "Bob Dylan e a filosofia espírita", de Jayro Antunes, está na página 4 da Edição 04 do jornal Leitura Espírita, que estabelece comparações entre a letra da música "Forever young" e algumas ideias fundamentais do espiritismo.
Aqui, você assiste o vídeo da canção:







E aqui, vê a letra original:

Forever young
Bob Dylan

May God bless and keep you always 
May your wishes all come true
May you always do for others 
And let others do for you
May you build a ladder to the stars 
And climb on every rung
May you stay forever young
Forever young, forever young 
May you st
ay forever young.

May you grow up to be righteous 
May you grow up to be true
May you always know the truth 
And see the lights surrounding you
May you always be courageous 
Stand upright and be strong
May you stay forever young
Forever young, forever young 
May you stay forever young.

May your hands always be busy 
May your feet always be swift
May you have a strong foundation 
When the winds of changes shift
May your heart always be joyful 
And may your song always be sung
May you stay forever young
Forever young, forever young 





quinta-feira, 28 de junho de 2012

A formação do leitor crítico: uma opinião

O direito de estudar, questionar e pesquisar é de todos

Por Rita Foelker


Já vi muitas discussões sobre o que se ter ou não se ter na livraria da instituição espírita, o que disponibilizar na biblioteca, o que anunciar, e decidi expor o que penso.
Penso indubitavelmente que o centro espírita precisa divulgar livros que passem noções corretas da doutrina espírita, assim como os boletins e jornais.
Mas "como fazer isso?", para mim, é a questão mais delicada. Precisaríamos resguardar essas avaliações, o máximo possível, da interferência de preconceitos e preferências pessoais, bem como de opiniões sem base doutrinária nenhuma. Será que conseguimos fazer isso? Ou seria preferível trabalhar para formar um leitor crítico, capaz, ele mesmo, de analisar e julgar o que lê?

Liberdade de pensar e questionar

No caso dos livros espíritas, o selo de uma editora conceituada não é garantia de coerência com a filosofia espírita. Então, creio que precisamos investir no outro lado: colocar os livros em discussão, incentivar questionamentos e pesquisas, possibilitar ao leitor aumentar seu discernimento. E nunca – mesmo! – abandonar o estudo das obras de Kardec.
O espiritismo não proíbe ler nada, mas vejo que algumas pessoas, preocupadas com a formação cultural do recém-chegado à casa espírita, criam medos e fantasmas em torno de certos autores e conteúdos, os quais não se justificam. E se essas pessoas representam, para alguém, autoridades dignas de confiança, ou são tidas como conhecedoras do assunto, a tendência será acatar suas observações. Por outro lado, o espírita deveria aprender a exercitar livremente sua razão, sem se guiar pela opinião deste ou daquele.
Algumas vezes, vimos dirigentes e formadores de opinião levantando bandeiras e atacando ideias (às vezes, até companheiros). E todo esse clima de “caça às bruxas” é preocupante, porque ele não é coerente com a visão espírita da liberdade de pensar. Buscar compreensão e esclarecimento é importante, mas nem todas as instituições espíritas ajudam realmente seus frequentadores a se esclarecerem nesse aspecto, a buscarem o suporte da razão. Definem o que deve ser lido e o que deve ser deixado de lado. Algumas que conheci queriam, mesmo, impor suas próprias interpretações.
Por isso, vejo que a solução é trabalhar na outra ponta, instrumentalizando o leitor para que ele seja observador, analítico, usando a razão e bom senso, sempre.
Também sou a favor de que as pessoas possam ler aquilo que lhes parece bom e interessante, aprendendo com isso a separar conteúdos relevantes de banalidades ou mesmo, de equívocos crassos.
Agora, existem casos de contradição flagrante aos princípios da doutrina, apresentada como se fosse espiritismo? Sim. Mas na maioria das vezes, as discordâncias dizem respeito a interpretações e pareceres pessoais sobre trechos e contextos em que estes se inserem.
Sejam ou não obras rotuladas de espíritas, acredito que precisamos tomar cuidado para não nos tornarmos censores baseados no nosso critério ou gosto pessoal – o que não é difícil de ocorrer. Os critérios deveriam levar em conta pura e simplesmente os postulados espíritas, as leis naturais, e não serem estabelecidos sobre preconceitos e opiniões sem base.
Enfim, ninguém pode afirmar o que “é” e o que “não é” espiritismo pois, com exceção das transcrições textuais da obra de Kardec, o restante fica submetido à maré dos pontos de vista.


Este texto está na Edição 03 do jornal Leitura Espírita, página 9.

E a tiragem dobrou, agora são 20 mil exemplares!






quarta-feira, 30 de maio de 2012

Inteligências Múltiplas: quais são elas e como operam

A teoria das Inteligências Múltiplas surgiu na década de 1980 com Howard Gardner e seu livro Inteligências múltiplas: a teoria na prática (Ed. ArtMed) que revolucionou as ideias sobre o o que significa ser inteligente, as quais não eram revistas desde a segunda metade do século 19!


O Jornal Leitura Espírita, publicado pelo Instituto Lachâtre, em sua Edição 02 (Junho 2012) traz, como matéria de destaque uma ampla reflexão sobre esta questão, com suas implicações de natureza espiritual e educacional, contemplando um pouco da história do conceito entre outras considerações.
Neste espaço, oferecemos aos interessados um quadro reunindo os tipos de inteligências propostos pelo autor estadunidense, bem como algumas que foram acrescidas posteriormente.
Gardner observou que o que se chamava de inteligência, até então, referia-se apenas a uma capacidade de responder a testes de inteligência. Com a sua teoria, passava a ser possível pensar-se inteligência como "a capacidade para resolver problemas ou elaborar produtos que sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários", como ele próprio consigna no livro citado. Cada inteligência seria uma faceta ou um talento.




A capacidade de desenhar como Da Vinci, a sensibilidade musical de Mozart, a habilidade lógico-matemática de Einstein são os aspectos desenvolvidos que estas criaturas traziam dentro de si, dentre todas as inteligências de que foram dotados, em diferentes graus.
Originalmente, Gardner relacionou oito inteligências, por meio de critérios que se referiam à sua localização no cérebro, a informações sobre os indivíduos talentosos e normais, em cada aspecto específico; a estudos sobre a evolução da cognição e da perda de capacidades cognitivas relacionadas a quadros de lesão cerebral, entre outros. São elas:

1. Inteligência lógico-matemática
Refere-se à capacidade de raciocínio científico ou indutivo, e também pensamento lógico-dedutivo. A capacidade de reconhecer padrões e de lidar com símbolos abstratos está envolvida também.

2. Inteligência linguistica ou verbal
Expressa-se no uso da linguagem escrita, falada ou através de outro meio, pela capacidade de lidar com os significados das palavras, seguir regras gramaticais e aplicar a linguagem ao uso literário ou informativo, persuasivo ou poético. Inclui o pensamento abstrato e simbólico.

3. Inteligência musical
Relaciona-se no reconhecimento de padrões de tons e sons do ambiente, na sensibilidade para perceber ritmos e batidas. Pode incluir também capacidades para tocar instrumentos musicais.

4. Inteligência corporal-cinestésica
O uso do corpo em suas várias possibilidades expressivas e habilidades motoras, incluindo todas as formas de movimento e dança, incluindo as práticas esportivas e a própria prestidigitação (habilidade dos mágicos).

5. Inteligência espacial
Relaciona-se à capacidade de formar modelos mentais e de operar com tais imagem que pode ser construídas a partir de leituras, de sons ou de impressões táteis e é uma capacidade bastante útil a quem lida com artes visuais, arquitetura e também cirurgia.

6. Inteligência interpessoal
Consiste na capacidade de relacionar-se com as outras pessoas e de bem comunicar-se, de trabalhar em regime de cooperação. Permite ainda perceber oscilações de humor nas outras pessoas e interagir positivamente com estas oscilações.

7. Inteligência intrapessoal
Relaciona-se ao autoconhecimento e à gestão dos estados interiores, permite formar um conceito verossímil de si mesmo e confere significativo grau de intuição.

8. Inteligência naturalística
Gardner descreveu o naturalista como ”apto para reconhecer flora e fauna, fazendo distinções relativas ao mundo natural e para usar essa habilidade produtivamente na agricultura ou nas ciências biológicas”.

Posteriormente, mas com base nos mesmos pressupostos de Gardner, a tese do psicólogo Robert Emmons, da Universidade da Califórnia, proporia a existência de uma inteligência existencial/espiritual, que não apenas permitiria estabelecer contato com o que as religiões denominam “o divino”, mas também contato consigo mesmo, o mundo e a vida, encontrando ali uma realização cognitiva “espiritual”.





sexta-feira, 4 de maio de 2012

O corpo e a loucura: visões de Nise da Silveira e Bezerra de Menezes.


Há muito mais dentro de nós do que podemos perceber ou conhecer.

A palavra inconsciente costuma ser usada para falar de um conjunto de processos mentais que não são conscientemente pensados. A psicanálise entende que se trata de um reservatório para memórias reprimidas de eventos traumáticos que influenciam os pensamentos e o comportamento conscientes. 
Dentro de uma concepção espírita, segundo a qual a encarnação nos proporciona o esquecimento das vidas anteriores, a ideia de inconsciente se amplia para abranger memórias, traumas e vivências não apenas do presente, mas de um passado que pode ser milenar.
De fato, este esquecimento do passado já era considerado, à época de Kardec, um dos principais argumentos contrários à tese da reencarnação. Seria como um estar sempre em permanente recomeço.
Os espíritos contudo explicam que este passado não está totalmente esquecido. "Não temos, é certo, durante a vida corpórea, lembrança exata do que fomos e do que fizemos em anteriores existências; mas temos de tudo isso a intuição, sendo as nossas tendências instintivas uma reminiscência do passado” (LE, item 393). Vemos aqui, de certo modo, a ideia de algo dentro de nós que não podemos conhecer diretamente, mas que influencia nossas ações.
Algumas vezes, esta influência se manifesta na forma de patologias. A médica brasileira Nise da Silveira entendia que as expressões do inconsciente eram um importante caminho na terapia dos doentes mentais.

Nise, nome de musa

Seu nome foi escolhido em homenagem à musa do poeta inconfidente Cláudio Manoel da Costa.
Nascida com temperamento forte, crescida em Alagoas em meio a uma família com acentuada militância política, Nise Magalhães da Silveira (1905-1999) foi cercada de arte e cultura desce cedo. Ali "surgiu uma menina brasileira que faria história singular. Criança-prodígio, adolescente de fina sensibilidade, jovem que prenunciava emancipação feminina. Uma figura que, por atos e fatos, se tornou ícone e alicerce de gerações. Personalidade única e inesquecível." São palavras de sua biografia Nise, arqueóloga dos mares, de Bernardo Carneiro Horta.

Nise da Silveira

A menina, que se descreveria mais tarde como "selvagem" e "guerreira", cresceu e formou-se em medicina em 1926 na Faculdade de Medicina da Bahia - a única mulher da turma -, especializando-se em psiquiatria. Casou-se com Mário, seu colega de faculdade e, em 1927, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar em 1933.
Por possuir livros marxistas, foi denunciada durante a Intentona Comunista e acabou no presídio da Frei Caneca por 18 meses, onde foi companheira de cela de Olga Benário, a moça judia entregue à Gestapo nazista pelo governo brasileiro, vivida no cinema pela atriz Camila Morgado, em Olga (2004).
Ali também se encontrava o escritor Graciliano Ramos, razão pela qual ela se tornou uma das personagens do livro Memórias do Cárcere.

O primeiro volume da primeira edição
de Memórias do Cárcere, lançado em  1953.

Depois da prisão, viveria com o marido em semiclandestinidade até 1944, quando foi reintegrada ao serviço público e assumiu o setor de terapia ocupacional do Hospital Pedro II, no Engelho de Dentro. Seu trabalho ali daria origem ao testemunho mais eloquente do suas convicções acerca da terapia.
A doutora discordava dos tratamentos usados comumente - lobotomia, eletrochoques, confinamento em hospitais e defendia a humanização do tratamento de pacientes psiquiátricos, onde as atividades como pintura e modelagem assumiram um importante papel como meios de expressão dos conteúdos inconscientes.

Aluna de Jung, propõe e pratica ideias revolucionárias em favor da humanização do tratamento dos doentes mentais

Segundo Mário Palmieri, "os doentes mentais eram mais estudados por neurologistas do que psiquiatras, eram praticamente excluídos da Medicina! Jung foi um dos que começaram a dar atenção maior ao estudo de fenômenos que aconteciam com pacientes mentais” .

Nise da Silveira (à esquerda) em encontro com Carl Gustava Jung.

Nise foi aluna de Carl Jung, o criador da Psicologia Analítica. Mas seu modo de pensar antecedeu este encontro. Nise declararia em entrevista ao professor Luís Gonzaga Pereira Leal que as mudanças em seu modo de encarar e lidar com a terapia "ocorreram muito antes de eu ter um contato maior com a psicologia junguiana, com antipsiquiatria. Pretendia que o paciente na Terapia Ocupacional tomasse conhecimento com a matéria. E, outra vez, um paciente me mostrou que eu estava no caminho certo, quando certa vez me ofereceu um coração em madeira e no centro do coração um livro aberto. Quando me ofereceu isso, me disse: 'um livro é muito importante, a ciência é muito importante, mas se se desprender do coração não vale nada'. Tudo que eu sei de psiquiatria aprendi com eles."

Pintura de Adelina Gomes, faz parte do acervo do Museu de Imagens do Inconsciente

Deixou-nos exemplos pessoais, atuação profissional, inconformismo mas, talvez, seu legado mais conhecido seja a criação do Museu de Imagens do Inconsciente. O museu teve sua origens nos ateliês do Hospital Pedro II, cuja produção era rica e abundante, além de apresentar grande interesse científico. Pareceu uma boa ideia disponibilizar o acervo de trabalhos aos cientistas, permitindo tanto o estudo dos símbolos quanto o acompanhamento da evolução dos casos clínicos mediante a análise da produção artística espontânea dos pacientes e a percepção do dinamismo da psique.
O Museu reúne mais de 350 mil obras e fica na cidade do Rio de Janeiro, no bairro do Engenho de Dentro. 
Acesse aqui o site do Museu.

A loucura sob novo prisma

O doutor Bezerra de Menezes, como médico espírita, pesquisou o tema da loucura e nos deixou um livro sobre o assunto, intitulado A loucura sob novo prisma. Suas ideias divergiam dos conceitos correntes entre médicos da época.
Segundo ele, o pensamento é atributo da alma e suas perturbações não decorrem obrigatoriamente de lesões neurológicas. Ele propôs que poderia haver quadros de loucura provocados pela obsessão (influência persistente de espíritos desencarnados). Afirma o bom doutor: "pelos meios espíritas, que nos dão a 
ciência da loucura por obsessão, é que podemos fazer, com segurança, o diagnóstico diferencial desta espécie, ainda desconhecida da medicina, que a confunde com a loucura por lesão cerebral. E, uma vez feito aquele diagnóstico, cumpre aplicar-se à obsessão um tratamento especial, como é de lógica rigorosa."
Afirma ainda ele que se deve compreender a loucura como Um fenômeno mórbido de duplo caráter: material e imaterial.
Se os são pressupostos diferentes daqueles da medicina praticada à época, assim também deve ser o tratamento. Bezerra propõe tratamento "moral e terapêutico". "No princípio, enquanto os fluidos maléficos do obsessor não têm produzido lesão cerebral, deve-se procurar elevar os sentimentos do obsidiado, incutindo-lhe na alma a paciência, a resignação e o perdão para seu  perseguidor, e o desejo humilde de obtê-lo, se em outra existência foi ele o ofensor".
A abordagem espírita, mais uma vez, mostrou-se adiante do seu tempo. Enquanto os médicos ainda acreditavam na loucura como resultado de origem orgânica, encontramos aqui a origem espiritual do problema e a proposta terapêutica condizente, iluminada por princípios de paciência, amor e perdão.
Não podemos deixar de pensar no importante valor da arte na sensibilização das criaturas, e na possibilidade da expressão artística como elaboração de conteúdos inconscientes que contribui para a cura. Assim, vemos como as propostas de Nise da Silveira e de Bezerra de Menezes podem coexistir e, mesmo, complementarem-se.

Leia mais:

Bezerra de Menezes. A loucura sob novo prinsma. São Paulo: FEESP, 
Nise da Silveira. Psicol. cienc. prof.,  Brasília,  v. 14,  n. 1-3,   1994 .
Museus mostram a vitória da arte sobre a lobotomiaGabeira.com. 

Não deixe de ler:
Bezerra de Menezes, fatos e documentos, de Luciano Klein Filho, por Instituto Lachâtre.


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Nova edição do Jornal Leitura Espírita chega da gráfica

A Edição 01 (Maio de 2012) do Jornal Leitura Espírita já está saindo do forno.
Nela, você poderá saber como Allan Kardec abordou a questão da Alma da Terra, tão presente nos movimentos de inspiração ecológica contemporâneos.
As mães de Herminio Miranda reflete sobre um fato: nossas mães são espíritos!
A edição traz também uma análise sobre a filosofia presente no livro infantojuvenil de Richard Dawkins, A magia da realidade.
Os possíveis pontos comuns entre a antiga filosofia de Lao-Tsé e o espiritismo são analisados por Jayro Antunes. Frederico Eckschmidt propõe importantes reflexões sobre a importância da presença de uma crença espiritual na recuperação de doenças físicas e mentais, em seu texto Uma ponte entre dois mundos.
Tudo isto, Folha da criança, Como escolher bons livros e, ainda muito mais, esperando por você!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Quer conhecer o novo jornal LEITURA ESPÍRITA?


Esta é a sua oportunidade!
Em Abril, lançamos a Edição 00 do Jornal Leitura Espírita.
Amigos e amigas que queiram conhecer o novo jornal deverão CURTIR A PÁGINA do INSTITUTO LACHÂTRE no Facebook e também enviar nome e endereço completos ATÉ 30 DE ABRIL DE 2012 para o email contato@jornalleituraespirita.com.br.
Aos leitores que assim procederem será enviado um exemplar gratuitamente.


quinta-feira, 29 de março de 2012

O que é um óbolo? E uma dracma? E um talento?

Quais as relações entre os valores das moedas citadas nos Evangelhos?

Uma das passagens mais citadas do Evangelho de Jesus refere-se ao óbolo da viúva.
Em O Evangelho segundo o espiritismo, encontramos um estudo sobre ela no Capítulo XIII - "Não saiba a vossa mão esquerda o que dá a vossa mão direita".
É bastante conhecida também a parábola da dracma perdida, narrada no Evangelho de Lucas.
Já o talento aparece na parábola dos talentos, sobre um senhor que, ao sair em viagem, entrega diferentes valores aos seus empregados. O primeiro e o segundo investem e dobram o valor recebido, enquanto o terceiro decide enterrar o talento recebido, por medo de perdê-lo. O senhor então retira dele o talento e o entrega ao primeiro. Em O Evangelho segundo o espiritismo, ela se encontra no Capítulo XVI - "Não se pode servir a Deus e a Mamon".

Unidades monetárias

O óbolo, a dracma, o estáter, a mina e o talento são unidades monetárias da Grécia Antiga, utilizadas também pelos romanos.
Uma dracma equivalia a um denário dos romanos e a um dia de salário, segundo Tucídides (historiador grego). Ela aparece na parábola da dracma perdida, que James Tissot capturou nesta pintura.

A dracma perdida (1886-1894), de James Tissot , do acervo do Museu do Brooklyn, Nova York

Já o óbolo era a moeda de menor valor, correspondendo a 1/6 de um dracma. Como o valor do metal empregado na cunhagem tinha relação com o valor, o óbolo continha 0,5 grama de prata.

Óbolo de prata, emitido entre 510-490 a.C.
O talento, por sua vez, era usado para quantificar grandes somas em dinheiro.
Moeda que representa um talento
www.saberweb.com.br.

A proporção entre estes valores nos revela uma possível intenção do Mestre.
Segundo o site Grecia Antiqua, a dracma (ou denário) valia seis óbolos; uma mina valia 100 dracmas (ou denários) e o talento valia cerca de 60 minas. Ou seja, podemos dizer que um talento valia cerca de 36000 óbolos!
Tal proporção mostra, por meio de uma imagem monetária, a proporção entre o que recebemos dos bens do Universo e o que se espera que doemos, desde que imbuídos do mais profundo sentimento. "E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo coração, como ao Senhor, e não aos homens" (Colossenses, 3:24).
Ela também oferece uma ideia da nossa pequenez perante o Criador de todas as coisas.

terça-feira, 20 de março de 2012

Instituto Lachâtre: Revista Eletrônica


Esta é a Revista Eletrônica que marca a fundação do Instituto Lachâtre, com destaque para:
  • O que é uma organização não-governamental?,  entrevista concedida por Jáder Sampaio;
  • Lachâtre, um militante social no século XIX, artigo de Dora Incontri.
E ainda, mais informações e projetos do novo Instituto.
Clique aqui e acesse agora mesmo!


terça-feira, 13 de março de 2012

Conexões entre o espiritismo e a ficção científica

Quem assiste hoje aos filmes clássicos de ficção científica, como Star Wars, de George Lucas, ou Star Trek em suas muitas versões, talvez não saiba que o gênero literário de ficção científica tem um curto tempo de vida na literatura mundial. E talvez não tenha parado pra pensar no que distingue este gênero de outros tantos tipos de ficção.


Cartaz de divulgação de Viagens extraordinárias, de Julio Verne

As primeiras histórias de ficção científica surgiram no século 19. Júlio Verne publicou pela primeira vez a obra Viagem ao centro da Terra em 1864. Vinte mil léguas submarinas saiu em 1870. Foram praticamente contemporâneas das primeiras obras espíritas, sendo que a primeira edição de O livro dos espíritos foi lançada em 1857 e o ano de 1864 assistiu à publicação de O Evangelho segundo o espiritismo (que originalmente se chamava Imitation de l'Évangile selon le spiritisme).
Ambas as realizações estavam relacionadas aos grandes progressos da ciência ocorridos no período. 
Ilustração feita por Èdouard Riou para a primeira edição de Viagem ao centro da terra, de 1864.


Ciência do século XIX


O século XIX representou um período muito fértil para a ciência, uma verdadeira revolução no campo da física, especialmente, que abriu caminho para os grandes avanços teóricos do século XX: a teoria da relatividade e a física atômica.
Ideias como a capacidade de um corpo exercer sobre outro uma força sem contato entre eles ganhavam espaço, assim como as pesquisas com eletricidade e magnetismo. Um dos principais personagens da história da ciência no período foi Michael Faraday.  Em 1831, ele descobriu a indução eletromagnética, que tornou possível inventar equipamentos como o transformador e o gerador elétricos. As ideias de Faraday sobre campos elétricos e magnéticos inspiraram muitos cientistas e a ideia de "campo" adquiriu uma grande importância na ciência atual.
Como se pode perceber, essa ideia também permite entender melhor a ação dos fluidos e dos pensamentos à distância, um fato que a ciência espírita veio apresentar e confirmar.


Retrato de Michael Faraday, por Samuel Cousins
http://www.chemheritage.org 
Ciência e literatura

Progressos científicos como esse foram fundamentais para a literatura de ficção surgida no período, visto que toda obra de ficção científica tem como característica principal basear-se em alguns fatos ou hipóteses da ciência que são explorados com imaginação. E se pudéssemos, mesmo, avançar ou voltar no tempo? E se pudéssemos, mesmo, chegar a uma outra galáxia? Estas incursões imaginativas podem ser mais ou menos fundamentadas em pesquisas reais, mas o talento literário tem um papel fundamental em seu sucesso.
Enquanto isso, a doutrina espírita inaugurava novas possibilidades à curiosidade científica e imaginação dos autores, apresentando a dimensão espiritual, a realidade dos espíritos daqueles que deixaram a Terra, suas relações com a humanidade encarnada, a pluralidade dos mundos habitados onde habitavam seres de diferentes graus evolutivos.

Autores de ficção científica e suas ligações com o espiritismo

Importantes autores inspirados pela ciência espírita foram Camille Flammarion e Arthur Conan Doyle - o criador do detetive Sherlock Holmes. Camille Flammarion deixou-nos O fim do mundo, que faz um prognóstico para  nosso planeta no século 25, quando ele seria atingido por um cometa, e depois fala de como ele seria daqui a dez milhões de anos.

Camille Flammarion em seu gabinete
http://www.astrofiles.net/astronomie-camille-flammarion 

Conan Doyle publicaria, em 1926, The land of the mist, que além do conteúdo ficcional mostra sua grande ligação com os conceitos espíritas.

Capa da edição do romance de Arthur Conan Doyle


No Brasil, o primeiro livro de ficção científica foi publicado em 1875, com o título de o doutor. Benignus, do português naturalizado brasileiro Augusto Emílio Zaluar. Ela narra o encontro, durante o período do sono, do protagonista da história com um habitante do Sol, que lhe vem dar orientações de conduta moral com a finalidade de promover a sua evolução espiritual.  Um tema que podia bem figurar em uma obra espírita e que traz em seu texto referência a importantes cientistas da época, como o próprio Flammarion.
Outro passo seria dado por Herculano Pires com Metrô para o outro mundo e O túnel das almas,  que foi quando a ficção científica ganhou reconhecimento no meio espírita.