Lamentavelmente, algumas vezes na vida trocamos o essencial pelo
supérfluo...
Por Pedro Camilo
Assistindo a uma entrevista concedida
pelo saudoso Luiz Gonzaga à TV Cultura, na década de 70 do século XX, ainda em
preto e branco e sem as demais tecnologias conhecidas nos dias de hoje, tive
minha atenção atraída para uma fala muito significativa do músico.
Seu filho Gonzaguinha, também artista
e presente à entrevista, endereça-lhe a seguinte pergunta:
- Eu queria saber: como foi tua
infância?
Com a sua natural simpatia, o Rei do
Baião respondeu, prontamente:
- Minha infância foi de menino pobre,
mas não tão infeliz, porque eu creio que uma criança pobre, uma criança, enfim,
dificilmente pode saber que é infeliz, desde que tenha o carinho dos seus pais.
Isto não me faltou em casa.
Pensando sobre
Ouvir essas palavras assim, com a
naturalidade e a autoridade de quem falava de si mesmo, me fez pensar um pouco
nos valores que cultivamos e transmitimos a nossas crianças, inda mesmo sem o
percebermos.
A todo instante, na luta frenética dos
nossos dias, apesar de todos os valores espirituais e morais que temos
aprendido a assimilar, nos prendemos em demasia às necessidades da vida
material, condicionando nossa felicidade à compra de um carro, de uma casa
nova, à realização de uma viagem ou mesmo à aquisição de um par de tênis.
Assim mergulhados no mundo do “ter”,
conduzimos nossas crianças pelos mesmos caminhos, como referências que somos na
formação de sua personalidade, inculcando em suas mentes que só é possível ser
feliz quando se acumulam riquezas, esquecidos das coisas simples e de como a
vida, em si mesma, é simples.
Aliás, o próprio universo infantil é
simples, isto é, destituído de maiores necessidades. As crianças se alegram e
festejam por pouca coisa, basta que se sintam agradadas, contempladas,
atendidas em suas manifestações de afeto e correspondidas em suas peraltices.
De que nos adiantam os tesouros que o
tempo consome, como na palavra do Cristo, se não entesouramos os nossos
corações e o das nossas crianças com amor sincero, com carinho verdadeiro?
Quantos de nós ignoramos a força do
afeto em meio às adversidades da vida e nos privamos, e às nossas crianças, de
momentos felizes, apesar dos pesares?
“Uma criança”, lembra Luiz Gonzaga,
“dificilmente pode saber que é infeliz, desde que tenha o carinho dos seus
pais”, ao que poderíamos acrescentar: pessoa alguma poderá se saber infeliz,
desde que receba e distribua afeto!
E se lembramos, ainda com Jesus, que
precisamos ser como crianças para ganhar o nosso “reino interior”, que é o
grande Reino de Deus, receberemos as sábias palavras do músico para nós mesmos,
buscando no carinho da família, dos amigos e da Humanidade a resposta perfeita
para os nossos momentos de infelicidade.
PEDRO CAMILO é advogado, professor
universitário, escritor e expositor espírita. Trabalhador do Núcleo Espírita
Telles de Menezes, de Salvador/BA. Autor de Yvonne
Pereira, uma heroína silenciosa (Ed. Lachâtre) e Mediunidade: para entender e refletir (Ed. Mente Aberta), entre
outros livros.
Este texto é parte integrante do Jornal Leitura Espírita, Edição 08, Dezembro de 2012, que traz ainda:
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